Relato dos Relatos Selvagens


(Relato sem acabar com o suspense do filme)


Não costumo assistir a filmes violentos, mas depois de tudo o que me relataram sobre o Relatos Selvagens, eu resolvi fazer um exercício de relaxamento e tomar coragem para encará-lo. Respirei fundo, deixei o meu lado zen em casa e me preparei para o pior... Surpresa minha foi que durante quase todo o filme eu ri pra caramba. Aliás, quase todo o público caiu em intensas gargalhadas. Mesmo diante de cenas violentas e absurdas o riso foi tomando conta do Cine Guión e eu estava surpreso comigo mesmo e com quem ria na poltrona do lado. 

O primeiro episódio, apesar de caricatural, me agradou bastante e eu até respirei aliviado. Mas no segundo, o humor negro foi tomando conta da tela e o terceiro acabou mostrando uma agressividade absurda (mas real) que envolvia racismo e aquele conhecido "instinto animal que nos habita", como me disse um analista amigo meu. Emoticon smile Ufa! Naquela hora eu pensei em sair da sala, não fosse a linguagem meio kafkiana, meio cortaziana do quarto episódio, em que Darin representa um sujeito que poderia ser qualquer um de nós (lá vem a psicanálise de novo!), quando nos sentimos impotentes frente à burocracia estatal. Sendo que o quinto episódio é bem mais digerível, mas nem por isso menos tenso e provocador.

O fato é que todos eles nos revelam a falta de valores de uma sociedade individualista que eleva a estupidez humana à sua máxima potência. En el gran finale se misturam cenas de amor, de ódio, de hipocrisia, de soberba e de tudo aquilo que uma vida de aparências pode nos oferecer... Enfim, quando eu saí do cinema, olhei para o rosto de cada pessoa que estava aguardando a próxima sessão e me perguntei: como elas irão reagir àquelas cenas horríveis e assustadoras? Mas logo me lembrei das gargalhadas e me escapou um sorriso irônico e sacana pelo canto da bôca... Depois, já na mesa de bar, após um trago e outro, acabei chegando à seguinte conclusão: rir e não se indignar com aquelas cenas, é sinal de que já estamos aceitando a violência e apenas procuramos soluções (?) individuais para combater as injustiças da vida.

Fui dormir tranquilo e gostando de ter assistido ao filme. Hoje, analisando alguns relatos que ouvi do filme, uma vontade imensa de lotar um avião e voar por aí com vários convidados(as) a bordo tomou conta de mim. Qual o motivo? Sinceramente, não sei. hehehe Vejam o filme e depois vamos conversar numa mesa de bar.