As grandes lições da montanha

 
O meu amigo Fernando Recuero, o Fefa, fez recentemente um trekking no Aconcágua e nos enviou um outro olhar lá da montanha. Leiam alguns fragmentos do diário que ele escreveu:

(...) Só há uma coisa sensata a fazer: prosseguir. Mesmo quando o corpo começa a dizer não.
Os pensamentos continuam a fluir. Devaneios andinos: Não quero morrer aqui! Fico pensando: estou exausto, mas vou prosseguir... Vou caminhar, vou conseguir! E lá vamos nós, em frente, extraindo forças não sei de onde... Por certo, são forças que movimentavam nossos corpos... Não em busca de um objetivo, mas de permanecermos vivos.
O esgotamento físico está estampado em nossas caras. Parecemos uns zumbis, autômatos, uns sobreviventes... Caminhamos muito lentamente, pois a altitude impõe um ritmo lento. Falta força e fôlego! O coração há muito tempo funciona bem acelerado... Estamos o tempo todo ofegantes e muito cansados. (...)
Fotografia de Fernando Recuero (Farroupilha - RS)
As grandes lições da montanha ensinam muito sobre o que é o companheirismo e o espírito de solidariedade que existe neste ambiente extremo... E como as situações adversas aproximam e nos tornam mais humanos. As coisas ganham outro valor e sentido.
A vida e as coisas na montanha são simples como um prato de sopa e uma xícara de chá, e isto tem um valor imenso neste mundo das alturas. (...)
Não celebramos somente a ida, mas principalmente a nosso retorno. Fomos a um limite e o ultrapassamos. Mas, o mais importante é que voltamos!
Foi uma grande experiência de vida, sobre a vida.

Cumbiera intelectual

A música me persegue por toda vida! Considero fundamental termos sempre uma trilha sonora em sintonia com as nossas atividades diárias. Hoje, me veio a idéia de compartilhar com vocês alguns clips musicais que estão disponíveis na internet e que me fazem muito bem... Para começar, vejam este do canadense/argentino Kevin Johansen, que fala de uma mulher que só gostava de conversar sobre livros e de "papos intelectuais". Façam um bom proveito!



Sob o ceú da fronteira

Fotografia de Ricardo Almeida

A fronteira não é um limite


Tolerar a existência do outro
 e permitir que ele seja diferente,
ainda é muito pouco.
Quando se tolera,
apenas se concede
e essa não é uma relação de igualdade,
mas de superioridade de um sobre o outro.
Deveríamos criar uma relação entre as pessoas,
da qual estivessem excluídas
a tolerância e a intolerância.”
José Saramago
Nasci em Santana do Livramento, um município que se situa numa fronteira política bem ao sul do Brasil (al norte del Uruguay). Durante a minha vida, consegui ultrapassar outras tantas não-políticas, pois a inquietação sempre me levou a fronteiras psicológicas, conceituais, científicas e até religiosas. Nessas viagens do pensamento, aprendi, por exemplo, que em todas elas não há um obstáculo intransponível, mas uma nova possibilidade de interação, como se fossem marcos de referências para novos universos que se abrem, um para o outro, misturando conhecimentos, sonhos, falas, hábitos, arquétipos e costumes. Pois, nesse espaço-tempo foram se revelando e se perpetuando vários universos mezclados e caórdicos, onde o caos e a ordem convivem em quase perfeita harmonia.
Sei que Livramento e Rivera sempre ocuparam um território com muitas práticas comuns interessantes, mas também sei que o mundo pouco conhece essas práticas. Talvez conhecendo, pudesse evitar tantos novos conflitos étnicos e culturais que estão se proliferando pelo planeta. É que lá na fronteira, existem muitas identidades e singularidades que se mezclan casi sin percibir sus diferencias culturales. Em dezembro passado estive por lá e assisti ao lançamento do livro Retratos do exílio: solidariedade e resistência na fronteira, do santanense Marlon Aseff e também a uma homenagem para o Carlos Urbim, outro escritor conterrâneo, que nos disse que “as pandorgas se cruzam naquele imenso céu azul, sem perceber que estão cruzando fronteiras”. O escritor argentino Jorge Luis Borges também já fez referências a esse território tão contraditório, e José Hernández começou a escrever o seu Martín Fierro do lado de cá da linha política imaginária. Mas, o que mais existe de interessante por lá?

Desta vez, percebi que ainda existe um sentimento profundo de convivência e de solidariedade junto com fortes contradições culturais que latejam incessantemente na cabeça das pessoas. Muitas sequer imaginam que as melhores universidades do planeta estão debatendo e pesquisando o conceito de alteridade, que é a aceitação do Outro enquanto diferente de mim mesmo. Aceitação do meu modo de ser, considerando o modo de ser do Outro. Ou seja, estudam aquilo que o povo dessa fronteira pratica no seu dia-a-dia sem quase se aperceber.

Como a Europa e uma boa parte do mundo estão vivendo novos conflitos étnicos, políticos e culturais, a intolerância se tornou visível nos países que ocorrem novos processos migratórios. Antigas colônias não aceitam a globalização apenas da matéria prima ou dos produtos, e também querem globalizar a mão-de-obra e a inteligência que ficou descartada pelos seus novos e antigos usurpadores. Então migram do Oriente, da África e da América em busca de melhores condições de vida e de um novo tipo de convivência étnico-cultural.

Sei que muita gente ainda resiste a provar o sabor dessa estranheza cultural. Mas isso é fruto da educação que tivemos... Ou melhor, das belas mentiras que nos transmitiram “educadamente” nos primeiros anos de vida. Também creio que nós brasileiros precisamos observar melhor e valorizar a nossa rica e diversificada convivência multicultural: do kibe à caldeirada, da paella à feijoada, dos brotos de bambu à pizza napolitana. Pois, tudo isso cabe numa boa mesa! Não é? Por que não?
 

Uma raça e diversas culturas...

A minha amiga e antropóloga Barbara Arisi (foto ao lado)  ganhou um concurso de fotos organizado pelo RAI - Royal Anthropological Institute - na Inglaterra. As fotos dela serão usadas em materiais didáticos para divulgar a antropologia. No próximo dia 8 de julho, uma delas será exposta no British Museum, quando professores e pesquisadores irão conversar com estudantes. A Barbara acredita que isso pode ajudar a conseguir um curso de fotografia e video para os jovens Matis , que vivem na Amazônia brasileira.

Vejam a foto da Victória (minha amiga, filha da Barbara e do Frank), junto com um indiozinho Matis:


Esta outra foto venceu na categoria Religião e Espiritualidade:

Utopia e barbárie

O César Cavalcanti (foto ao lado) me enviou um email anunciando o novo documentário do Silvio Tendler, intitulado Utopia e Barbárie. O filme foi lançado comercialmente em abril mas ainda não chegou em todas as capitais. Quando será que ele vem por aqui? Para quem não sabe, o Cesar Cavalcanti atualmente mora em Florianópolis e é documentarista e diretor de produção de belos filmes nacionais. Também ministra oficinas de produçăo nas áreas de cinema e vídeo.

O site do Utopia e Barbárie contém diversas entrevistas, comentários e depoimentos em vídeo. Veja no endereço: http://www.utopiaebarbarie.com.br

Mais um olhar, sintonizado com o nosso olhar em movimento.