Da infância à maturidade das nossas organizações

Dedico este texto ao meu grande amigo José Eduardo Utzig¸in memorian, que não alcançou forças suficientes para resistir às barreiras impostas pela velha cultura.

“Não sois máquinas, homens é que sois”
Charles Chaplin


       Assim como as pessoas, as organizações passam por diferentes estágios até chegarem à fase que chamamos de maturidade. Na primeira infância, elas preocupam-se com os seus interesses individuais, corporativos, no caso das organizações, voltadas para dentro. Na sequência, experimentam a fase das descobertas técnicas, artísticas e científicas, o chamado mundo das habilidades e, somente se conseguirem superar essas duas fases anteriores, acessam o estágio do conhecimento e da criatividade compartilhada.

       É comum as pessoas e as organizações permanecerem por muito tempo numa das duas primeiras fases, pois a terceira requer um forte domínio de técnicas de gestão sofisticadas e complexas, além de exigir um desejo radical de compartilhamento de conhecimento e de sabedoria, com a sublimação de impulsos infantis (egoístas) e uma abertura para o novo: o desconhecido.

       Na segunda fase, as habilidades técnicas, científicas e/ou artísticas individuais são aprendidas e, quase automaticamente, servirão de base para superá-la. No entanto, a técnica é como um remédio que vicia. Todo sujeito que está recém se iniciando nela, no afã de aplicá-la, acaba sempre substituindo a leitura sensível da realidade pela obediência cega aos procedimentos aprendidos. Nesse caso, a complexidade da realidade passa a não ser compreendida como ciência (no seu contraditório) e sim como técnica, induzindo a avaliações distorcidas e limitadas, caindo na armadilha do saber formal e burocrático.

       Por seu lado, o processo de amadurecimento exige algumas superações e até rupturas, pois ele requer a destruição das amarras forjadas na velha cultura hierárquica e/ou de “castas”, baseada em cargos, originárias dos exércitos, das igrejas e, a partir da segunda revolução industrial, dos partidos e dos governos tiranos. Mas também requer, fundamentalmente, uma nova cultura voltada para resultados (tanto de produtos como de processos), a partir da ação atenta das pessoas envolvidas.

       Em todos os casos, a valorização e a capacitação das pessoas é um fator fundamental, pois elas precisam ser entendidas como sujeitos e não como “instrumentos” da política definida. Ou seja, uma organização não consegue formar equipes conscientes e comprometidas em pouco tempo de vida. No caso dos governos é mais complicado ainda, pois a visão de futuro pretendida também precisa convencer  e envolver os servidores públicos de carreira. Sem eles, a execução e os resultados esperados jamais aparecerão.

       Portanto, percebe-se que a gestão voltada para projetos e a busca por melhores resultados é muito mais complexa do que planejar, conseguir financiamentos e assinar contratos. Ela requer, em primeiro lugar, que se adote uma visão sistêmica dos processos e depois que se escolha alguns eixos centrais para serem pactuados e trabalhados (planejamento e gestão dos processos e dos resultados) em detalhe.

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