A partir de
temáticas específicas, destacadas pelo público, os roteiristas, os diretores,
os produtores e alguns artistas se revezaram respondendo perguntas, trazendo
novas reflexões e, inclusive, revelando novos sentimentos, que pareciam comuns
entre os participantes.
Durante este
processo de trocas, tanto a equipe do filme como os interlocutores revelaram
uma constelação de conceitos sobre as fronteiras e formaram um espelho
multifacetado de olhares, um verdadeiro caleidoscópio de sentimentos de
pertencer a diferentes culturas de Nuestra América, do Brasil ao México,
da Argentina à Bolívia, do Paraguai ao Uruguai, do Equador até onde as redes
sociais alcançaram.
Alguns
olhares que consideravam apenas o aspecto nacional se depararam com outros que
também enxergavam o fenômeno do hibridismo cultural e da transculturação que
sempre ocorreu nessas regiões de fronteira. Os olhares “de fora”, aos poucos
foram se transformando em olhares “de dentro” e desconstruindo velhos conceitos
que estavam sendo reproduzidos, tratados como “naturais” e não como “culturais”,
e substituídos por outros que até então eram desconhecidos ou pouco divulgados.
Por exemplo,
a estudante Ingrid Torres Contreras, de Barcelona, afirmou: “se vocês falam portunhol, aqui nós falamos em
‘catanhol’ (catalão com espanhol)”. Já o professor Edivaldo González Ramírez,
da Facultad de Filosofía y Letras, da Universidade Autônoma do México, destacou
que “o filme nos faz pensar em outras formas de relacionamentos humanos, pois
muitos fazeres também são realizados em espaços públicos. No episódio La
Sociedad, há quem se dedique à cozinha, mas também à dança, à pintura etc.,
em uma construção que vai muito além dos Estados nacionais”. Sobre as questões
da discriminação e da violência nas fronteiras, que aparecem no episódio Peregrinus,
a professora Karla Muller, da Universidade Federal do Rio grande do Sul,
pergunta: "será que este espaço da fronteira teria que dar conta disto? E
concluiu dizendo que "existem outras tantas cidades que não são
fronteiriças e que também há um desrespeito às orientações sexuais. Por que a
fronteira tinha que dar conta de todas as diversidades?"
É importante
destacar que, em muitas intervenções, as fronteiras eram vistas apenas como
limites nacionais, mas depois desta grande jornada do Fronteriz@s, elas também
passaram a ser vista como territórios de integração cultural.
Enfim, foi a
partir desse tipo de temáticas trazidas pelo público, seja da área da
arquitetura, da geografia, da sociologia, da comunicação, das línguas, das
relações internacionais, das letras ou da antropologia, que se formou um fio
condutor capaz de fomentar importantes reflexões sobre relações de intercâmbio,
de cooperação e, principalmente, de convivência cultural entre os povos e
também sobre a diversidade cultural que compõe estes e outros territórios.
Para provocar
as reflexões e alimentar os diálogos, o filme foi liberado durante alguns dias
para que professores e estudantes preparassem os encontros. Foi assim junto ao
programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Estudos Latino-Americanos da
UNILA, ao Mestrado em Estudos Fronteiriços da Universidade Federal do Mato
Grosso do Sul, ao Grupo de Estudos Interdisciplinares das Fronteiras Amazônicas
da Universidade Federal de Rondônia, à Rede Interuniversitária do Mercosul (que
envolve professores e estudantes de diferentes países), à Jornada Científica do
LEAUC, promovida pelo Laboratório de Estudos do Ambiente Urbano Contemporâneo,
no Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU-USP),
ao Cine Clube do Instituto Federal de Santa Catarina, campus São José, à Cartelera
Cultural FFyL – da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade Autônoma do
México, ao Cine UFPel, da Universidade Federal de Pelotas, RS, à Secretaria de
Cultura e o El Rule Comunidade de Saberes, ambos da Cidade do México, à FURG –
Fundação Universidade de Rio Grande, campus Santa Vitória do Palmar, RS, ao
Núcleo de Estudos e Pesquisas Afrobrasileiros e Indígenas , IFSul campus
binacional Santana do Livramento-Rivera, à Faculdade de Humanidades da
Universidade da República, de Montevidéu, à Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas e ao Festival Internacional de
Cinema da Fronteira, de Bagé, no Rio Grande do Sul, além de organizações
sindicais e de coletivos culturais.
Esse ambiente
de trocas acabou formando uma rede de produtores de cinema na fronteira
Brasil-Uruguai, agora interconectada com os pesquisadores de diversas regiões e
países.
Ricardo Almeida. Produtor geral do longa-metragem Fronteriz@s
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