Por uma filosofia não antropocêntrica!

Texto enviado por Eduardo Soares (Brasília)
Pessoal,

A idéia do BLOG é boa, e está ficando interessante!

Como já tem manifesto, filmes etc., lembrei - como leitor assíduo que sou - que usar este espaço para trocas sobre livros pode ser igualmente interessante.

Então, recomendo abaixo quatro livros que li este ano e que foram muito legais. Todos são não-ficção e, de uma forma ou de outra, tem a ver com minha atividade profissional e com a minha inserção como cidadão do mundo.

CACHORROS DE PALHA - John Gray, filósofo inglês ligado ao grupo da Teoria Gaia. É a crítica mais contundente que já li ao antropocentrismo de nossa civilização, pondo desde nossas religiões até o humanismo, marxismo, situacionistas e tudo o mais num único saco. O livro é centrado numa crítica à filosofia como fundadora da crise ambiental e sobre a necessidade de criarmos uma filosofia não antropocêntrica. Vale muito a pena ler!

BREVE HISTÓRIA DE QUASE TUDO - Bill Bryson. Um apanhado geral sobre como a ciência chegou a saber o que sabe (ou o que supõe saber). Me senti fazendo uma espécie de "supletivo do segundo grau", com o autor percorrendo temas aos quais fui apresentado no ginásio ou científico - obviamente sem a habilidade didática que o escritor demonstra agora. Vale como atualização, mas para muitos assuntos, fez “cair a ficha” sobre temas que no passado só acertei em prova por pura decoreba, mas não por entendimento.

O MUNDO SEM NÓS - Alan Weisman. O autor (jornalista) se propôs a informar-nos sobre o que acontecerá com o planeta após o desaparecimento de nossa espécie, o que ele advoga como iminente (ele também partilha da tese Gaia). Desmonta, concordando com o John Gray, mas por outro caminho, a tese de que a vida acaba, mostrando que a vida não é antropocêntrica mas - felizmente - "caga e anda" prá humanidade. Entretanto, ela terá que se adaptar às seqüelas com que a humanidade registra sua passagem sobre o planeta. Neste caminho, expõe a falsidade de certas "soluções" engendradas pelo sistema, como o plástico biodegradável e a própria trangenia, e de como nosso domínio da natureza é pífio/risível Ao fim, nos dois ou três últimos capítulos, faz uma pequena discussão filosófica sobre o post morten, sobre se podemos esperar algo nela. É complementar ao CACHORROS DE PALHA... enquanto o John Gray filosofa, ele, Weisman, trabalha provas/evidências.

ELOGIEMOS OS HOMENS ILUSTRES - James Agee (escreveu) e Walker Evans (fotografou). Este livro é considerado um marco na história do jornalismo mundial. Feito a partir de uma encomenda de reportagem sobre como sobreviviam camponeses durante a Grande Depressão, a qual foi rejeitada pelo demandante. Ainda não acabei de ler, mas é um livro incomum por sua estrutura, que entremeia as notas/observações do autor descrevendo o que vê com suas reflexões éticas e filosóficas sobre o sentido do seu trabalho e o direito de fazê-lo devassando a vida das pessoas (ele fez "imersão", à moda Chambers/DRP, por 3 meses, junto a três famílias de camponeses brancos meeiros de algodão) . A descrição sobre a materialidade dos camponeses, suas casas, mobília, roupas, rotinas, etc. é barroca, tal a refinação dos detalhes - e ele ainda reflete sobre o quanto esta materialidade determina/influência o modo de pensar/perceber o mundo (e o quanto limita a infância camponesa). Neste sentido, é quase determinista. Diferente é o mínimo que se pode dizer deste livro que, pelo barroco do texto, é difícil tanto quanto encantador em sua prosa seguidamente poética.

3 comentários:

  1. Grande seleção de livros! Sugiro ainda o título "O dilema do onívoro", que entra profundamente na cadeia de produção dos alimentos da sociedade americana desta época. O curioso jornalista Michael Pollan acompanha os meandros do caminho do milho, pelas lavouras, pelos confinamentos e supermercados! Vale a pena ler e se impressionar... Este blog tá o máximo! Um abraço! Lilia Pereira Pelotas RS

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  2. Lilia,

    Li o O DILEMA DO ONÍVORO e concordo/complemento seu comentário. O livro é muito bom e prega o "encurtamento" da cadeia produção-consumo de aliments, com um retorno ao simples. Ao mesmo tempo, denucia que a produção "orgânica", na maioria dos casos, é insuficiente para ajudar a equacionar a questão ambiental no mundo. Vale a pena.
    Quanto ao humanismo, realmente é uma versão "branda"para o mesmo antigo e estúpido antropocentrismo. Temos que aprender que a renúncia à pseudo-necessidades impostas por nossa "civilização" talvez seja o único caminho capaz de uma perspctiva de sobrevivência de nossa espécie.

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  3. Oi, Duda. Gostei do "talvez"... me pareceu menos afirmativo e mais sincero. Gosto dessas visões que questionam quase tudo o que está aí, mas também gosto daquelas que questionam a si mesmas. Vou ler os livros e depois comento. Prometo!

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