Forrest Gump, as caixas de bombons e a nossa história



Forrest Gump – O Contador de Histórias, do diretor norte americano Robert Zemeckis, é uma comédia super dramática. Trata-se de uma das melhores reflexões contraditórias e modernas sobre a vida humana. O diretor se utiliza da ironia para revelar a existência de um olhar voltado apenas para o presente, para os chamados prazeres privados, que deixam a construção do futuro para "os outros", num mundo bastante dominado pela idolatria, pelo consumismo, pela alienação e pela reprodução.


O personagem principal, Forrest Gump, é uma amável pessoa que vive intensamente sem entender quase nada do que se passa à sua frente. Mesmo assim, ele se torna uma importante testemunha dos maiores acontecimentos da história norte-americana, pois isso não dependia do seu grau de discernimento, capacidade intelectual ou ideologia. Seu pensamento estava voltado apenas para satisfazer a vontade dos outros. Mesmo assim, o filme nos mostra que alguém pode entrar para a história sem entender nada do que se passou. Ou seja, que basta você estar presente "no momento certo" e “na hora certa” para ser lembrado. O importante é manter a curiosidade e o atrevimento no momento em que "as coisas" estão acontecendo. Claro, se tudo for registrado pela lente de um fotógrafo, um blogueiros ou um jornalista de plantão.

Nesta nossa sociedade dominada pela mídia e pela tecnologia é muito comum a verdade ser substituída pelas aparências e pelas intenções. Fica muito difícil identificar o verdadeiro conteúdo das interações humanas. Quer ver um bom exemplo? Se um grupo quer revolucionar os costumes, construir uma sociedade livre e democrática, mais fraterna, socialista, ou seja lá o que for... ou se quiser resolver tudo “na porrada”, num golpe de mídia, a maioria das pessoas está pouco se importando com o método utilizado, pois há uma verdadeira banalização "das coisas". Assim, tudo se confunde, se embaralha, como se fossem a mesma “coisa”. Somente olhando bem de perto, ouvindo e sentindo as pessoas, é que se pode ver as diferenças.

 

Na ficção, o "soldado Gump" achava que era muito fácil servir o exército, pois bastava "fazer a cama direito, estar sempre em pé e responder todas as perguntas dizendo: "sim, sargento". Na vida real também vemos pessoas assim: repetindo o que os outros dizem, decorando "chavões", adotando uma lógica rígida e muitas vezes "sem a mínima reflexão", apenas para satisfazer os seus prazeres pessoais. Mas, voltemos à ficção!!!
A mãe de Forrest foi fundamental na sua formação e relação com a vida. O nome dele, por exemplo, foi uma homenagem a um antepassado que fez parte da história norte-americana. Mas tinha um detalhe: esse outro Forrest era líder da Ku Klux Klan. Ela sempre repetia uma frase para Forrest: "A vida é como uma caixa de bombons. Você nunca sabe o que vai encontrar". No entanto, Forrest interpretava (?) que ninguém poderia imaginar um futuro possível e, por isso, não fazia reflexões sobre o futuro e a sua vida. Assim, ele acabou se tornando refém dos acontecimentos que surgiram à sua frente. No final do filme, ele entrega para o filho um livro que herdou da sua mãe... Claro, sem nenhuma reflexão! Dá para interpretar esse simples gesto como aquele tipo de conhecimento (verdade ou não) que repassamos quase que inconscientemente para as novas gerações.
 
Portanto, de uma maneira muito divertida, o Contador de Histórias nos faz enxergar o mundo com os olhos desarmados e, ao mesmo tempo, a responsabilidade que temos ao tentar desvendar a complexidade do mundo real. Enfim, o filme consegue contextualizar uma experiência alienada e mostrar a importância daquelas nossas velhas reflexões: "Quem somos? De onde viemos? Onde estamos? Para onde vamos? Esse é um drama nosso, não das pessoas que preferem se alienar dos acontecimento.

Veja o trailer do filme no link:

2 comentários:

  1. Olá Ricardo!
    Penso a reflexão é mto pertinente. Estamos sempre "culpando" ou jogando a responsabilidade, da nossa vida, em alguem. Se Deus quiser... Ah o governo...Ah pq fulano...
    Nunca a responsabilidade é nossa.
    A questão da educação tb é algo q me intriga, penso que para mudar o Homem, precisamos mudar e "educar" as mães. Um exemplo, as mulheres afegãs, são "castradas" de sua liberdade, porém são as mesmas que "criam" os homens-bomba. Quer dizer toda a revolta interna destas mulheres, se reflete na criação que dão aos seus filhos.
    Eu te provoco, com a questão de estar na hora certa e no lugar certo. De uma maneira ou de outra precisas estar preparado para que este acaso aconteça. Para ganhar na loteria, precisas primeiramentes apostar. Para seres "fotografado" no lugar exato na hora exata, sua "alma" ou semântica - como outros chamam, precisa estar em consonancia com a do fotógrafo, ou seja, vibrar na mesma faixa. A razão pura não explica esta questão, porém, o campo semântico me dá esta relação exata.
    um abraço
    Cladiane

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  2. Claudiane. Concordo contigo que "devemos estar preparados". Foi isso que eu quiz mostrar que Forrest nunca estava "preparado" (pra usar as tuas palavras). Ele simplesmente "estava ali", por acaso... Pra fazer um contra-ponto contigo. Pode ser e pode não ser, depende do caso. Os fotógrafos quase sempre se preparam antes, escolhem o ângulo e o enquadramento. Utilizam as suas habilidades, o seu conhecimento. Quanto às mulheres afegãs, entendi mas não sei se "os homens e as mulheres" saberiam fazer isso... Sempre depende!

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