A Liberdade é Azul (uma sinfonia inacabada)

Publicado por Ricardo Almeida

“A Liberdade é Azul” (Bleu - 1993) é a primeira parte de uma trilogia filmada pelo diretor polonês Krysztof Kieslowski, que se completa com “A Igualdade é Branca” (Blanc - 1994) e “A Fraternidade é Vermelha” (Rouge - 1994). O filme reflete o pensamento inicial do diretor em busca de um humanismo solidário e fala das dificuldades existenciais e subjetivas encontradas para a sua realização. Toda sensibilidade do cineasta está revelada no texto, nos sons e no enquadramento das cenas iniciais e se manifesta ao longo de quase todo filme.

A reflexão mais profunda se dá através de personagens que se cruzam, mas principalmente na tragédia que ocorre na vida de Julie Vignon (Juliette Binoche) após a morte do marido - um maestro e conhecido compositor europeu - e da filha, num acidente de carro. Ao ficar sozinha, ela sente que sua vida perdeu o significado, passando a viver um tipo de liberdade egoísta e totalmente esvaziada de conteúdo.

As perdas são representadas por uma casa vazia e pela envolvente música composta pelo marido morto que ecoa na cabeça de Julie, sem deixá-la viver em paz. É que, num primeiro momento, ela ainda não percebia que existia uma relação intrínseca entre a sinfonia inacabada e a sua vida, também interrompida pelo trauma.

Na busca de um sentido para a vida, ela tenta ignorar o passado, mas aos poucos vai descobrindo que está cada vez mais presa a ele. Ou seja, por mais que ela tente fugir daquela realidade dolorida, sempre surgem sombras que a chamam para “conversar” com a sua verdadeira experiência de vida.

Com o passar do tempo e com a revelação de novos fatos, ela vai descobrindo que não deve mais fugir e que somente o diálogo com as suas lembranças seria capaz de concluir aquelas duas obras incompletas: a sinfonia inacabada e a sua própria vida. Aos poucos há uma mudança na sua postura e ela começa uma nova busca pela harmonia com aquela composição, e isso passa a ser fundamental para o resgate dos seus melhores sentimentos e a trazem de volta para a realidade. Ao permitir a existência de fortes laços com outras pessoas, ela consegue sentir novamente o amor e a amizade, e o passado que tanto assombrava seus pensamentos passa a ser o elo de interação com a possibilidade de uma nova vida.

As reflexões sobre a igualdade e a fraternidade aparecem silenciosamente neste filme e depois são aprofundadas nas outras partes da trilogia. Na obra completa (nas três cores) Kieslowski nos diz que a liberdade é vazia se não vier junto com a igualdade e a fraternidade. E vice versa. Ou seja, se alguém não consegue dialogar com outras pessoas é porque ela não aprendeu a compartilhar reflexões e os seus sonhos. Na prática estaria realizando “o nada”! Ou seja, o problema é quando não reconhecemos o que aprendemos e não compartilhamos os nossos afetos.

Assista ao trailer do filme:

http://www.youtube.com/watch?v=jmQ88PWzvR0

4 comentários:

  1. Eu gostaria de saber sobre a sinfonia,quem é o compositor?

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    3. https://youtu.be/9lJeQAFyJgQ

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